Thursday, February 12, 2009

ETFs

ETFs (Exchange-Traded Funds) são cotas de fundos de investimento em ações que são negociadas em bolsa exatamente como ações. Os ETFs seguem a valorização de um índice de referência como o Dow Jones, o S&P500, o Ibovespa ou um índice setorial como telecomunicações, energia, petróleo etc.

Nos países desenvolvidos, os ETFs são amplamente negociados e fazem parte da carteira de investidores individuais, profissionais e fundos de investimento. No Brasil, o conhecimento de suas características e vantagens ainda é bastante limitado.

Até pouco tempo, o único ETF negociado no país era o PIBB, uma cota de fundo de ações que segue a valorização dos 50 papéis do IBrX-50. No final de 2008, o banco inglês Barclays, líder mundial de emissão e administração de ETFs, lançou seus primeiros produtos no Brasil, seus famosos i-shares. Foram lançados três tipos: acompanhando o índice Ibovespa (BOVA11), as empresas de tamanho médio (MILA11) e as pequenas empresas de capital aberto (SMAL11).

Infelizmente poucos negócios são realizados na bolsa com ETFs e por isso sua liquidez ainda é pequena, principalmente se comparada com os Estados Unidos e Europa. Isso se deve principalmente à falta de conhecimento dos investidores sobre estes produtos.

Uma das principais vantagens dos ETFs é sua valorização no longo prazo. Estudos conduzidos ainda na década de 70 pelo economista e escritor Burton Gordon Malkiel e corroborados por várias outras pesquisas estatísticas mostram que fundos passivos batem quase todos os fundos ativamente administrados no longo prazo.

No curto prazo, carteiras ativamente administradas, aquelas na qual um gestor escolhe as ações podem até bater as carteiras passivas por alguns poucos anos, mas apenas 3% delas conseguem superar um índice de referência em 10 anos. O número cai para menos de 3% à medida que o tempo avança. A explicação é simples: o gestor precisa acertar não apenas as ações certas, mas também quando comprar e quando vender. Precisa acertar de forma sistemática para continuar acima do índice. É uma tarefa muito difícil.

Portanto, mantenho minha recomedação de deixar seus investimentos renderem com o tempo, de forma gradual e sem se deixar levar pelo nervosismo de curto prazo do mercado. Um decisão importante que você deve fazer é definir quanto deseja manter dentro e fora da bolsa e fazer pequenos ajustes nas proporções. Lembre-se: deixe seu dinheiro trabalhar para você no longo prazo. Especulações bem-sucedidas são a exceção.

Sunday, February 8, 2009

1929 versus 2008/9

A crise econômica vai durar? Será como a de 1929, em que a bolsa despencou e continuou caindo até 1933?

Eu acredito que não.

Em ambas as crises houve um enxugamento de crédito e liquidez. A enorme diferença entre elas está na atitude dos governos federais. Em 1929, o governo do presidente americano Hoover alimentou a crise com medidas que retiraram moeda de circulação e mantiveram a economia engessada. Naqueles anos, o governo chegou a aumentar impostos, criou tarifas protecionistas (Smoot-Hawley tariff), manteve os salários elevados e por consequência obteve uma taxa de desemprego de 20%!

Os erros do passado foram aprendidos pelo atual presidente do Fed, Ben Bernank. O estímulo à economia está focado em aumentar rápida e substancialmente a liquidez no mercado. Isso está sendo feito através de redução de impostos, queda brutal nas taxas de juros, empréstimos às empresas e aos bancos e até estatização. É um plano inteligente e complexo que visa atuar em vários pontos do mercado: do incentivo ao consumo ao aumento da oferta de crédito e garantias. Outra questão interessante é a internacionalização e coordenação dos outros Bancos Centrais. As medidas são parecidas às adotadas na Europa e Japão.

Vai funcionar? Vai. São centenas de bilhões de dólares demais entrando no mercado. Um montante nunca visto na história. As ações das empresas estão baratas. Quando alguns indicadores começarem a reagir, principalmente emprego e PIB, os investidores retornarão às bolsas injetando outros bilhões na economia.

A questão central não é se a economia vai reagir, mas quando. O mercado já espera uma safra de péssimos resultados financeiros nos próximos meses. Isso afetará a confiança dos empresários e consumidores. É fato. No entanto, isso já é esperado, como foi destacado pela impressa que cobriu o Fórum Econômico de Davos: a situação vai piorar antes de melhorar.

De investidor para investidor, segue uma sugestão: compre quando o pessimismo se instalar e todo mundo estiver vendendo. Não tenho bola de cristal, não sei quando acontecerá, mas eu ficaria bem atento nos desdobramentos da crise nos próximos meses.

Saturday, February 7, 2009

Stock picking, uma falácia?

Nos últimos meses, venho me dedicando a estudar as mais diversas estratégias de investimento. Quanto mais estudo, mais cético fico em relação à escolha de ações individuais (stock picking) como uma estratégia consistente de investimento. Um dos principais motivos é que, hoje em dia, existe gente demais olhando para o mercado. A precificação dos ativos está cada vez mais complexa e achar pechinchas está cada vez mais difícil.

Tenho procurado contra-exemplos para minhas convicções e não consigo imaginar ninguém melhor que Warren Buffett. Ele fez fortuna exatamente escolhendo ações isoladas. Segundo sua filosofia de investimento, deve-se comprar ações dentro de uma margem de segurança considerável, ou seja, comprar o que está extremamente barato. Com raras exceções, como a compra das ações da Geico, em geral ele se mantinha fiel à doutrina de seu mentor, Benjamin Graham.

Para escolher as ações, ele fazia um trabalho de "formiguinha": pesquisava os manuais da Standard&Poors, visitava empresas, aplicava o dinheiro de terceiros sem o mínimo de transparência (para não "vazar" suas idéias), conversava com os diretores e presidentes das empresas e várias coisas que seriam impossíveis hoje em dia. Ele conseguiu bater o índice Dow Jones consecutivamente por vários anos e correndo menos risco do que a média de mercado. Como ele conseguiu?

Nas décadas de 50 a 70, não existiam computadores. O registro das ações era feito em quadros, as ações eram registradas em papel e os dividendos eram pagos com cheques emitidos para os investidores. Neste ambiente, Warren fez história como um dos mais brilhantes investidores de todos os tempos.

Naquela época, era possível fazer um trabalho de investigação e descobrir verdadeiras "jóias", como empresas sem dívidas e com mais dinheiro em caixa do que a soma do preço de mercado de suas ações. Situações assim equivalem a trocar uma nota de 10 reais por outra de 20. Warren era um mestre em descobrir estas jóias.

Entretanto, seria esta uma estratégia válida de investimento hoje em dia? Com raríssimas exceções, não. Temos computadores vigiando ações em todas as bolsas do mundo. Uma empresa que possuir ativo circulante líquido maior do que sua capitalização de mercado deve acender uma mensagem de alerta em milhares de computadores pelo planeta. Em minutos os compradores entram em ação e o preço sobe. Warren fez fortuna comprando justamente este tipo de ação.

Talvez por este motivo, milhões de pequenos investidores percam dinheiro nas bolsas. Muitos entram em especulações acreditando estarem fazendo um bom investimento. Então seria a bolsa de valores um ambiente na qual os pequenos não deveriam entrar? Não, se aplicarem coerentemente com o seu nível de informação em relação ao mercado. Isso deve significar uma aplicação diversificada ou em PIBBs para uns 90% ou mais dos investidores. Tratarei deste assunto em um artigo sobre investimentos passivos.